Em mesa de negociação no início da pandemia provocada pelo coronavírus, o Santander havia se comprometido, junto com outros bancos, que as metas seriam cobradas com razoabilidade, para garantir segurança e a saúde física e emocional dos bancários. No entanto, a realidade que vem sendo encarada pelos trabalhadores cotidianamente é bem diferente.
Bancários de diferentes agências e departamentos estão procurando o Sindicato para denunciar cobranças abusivas e pressão por parte de gestores – relatando, inclusive, que elas aumentam semanalmente. Para se ter uma ideia, a meta de capitalização subiu 50% da última semana de maio para a primeira de junho.
“Os trabalhadores do Santander estão sendo cobrados três vezes ao dia, por todos os meios disponíveis, de forma massiva, agressiva e constante, elevando o estresse e o adoecimento. Além disto, o banco foi um dos primeiros que iniciou as demissões, no dia 05 de junho, o que causa ainda mais terror”, conta a dirigente sindical Lucimara Malaquias. “Trabalhar com medo não é bom nem pro banco! É contraproducente essa gestão que visa apenas o lucro, tratando seus funcionários com total desrespeito”, completa.
Bancários relatam que as cobranças estão crescendo constantemente. Primeiro, foi instituído um plano de “vendas mínimas”, no qual cada gerente deveria fazer ao menos quatro produtos de uma grade composta por nove. Depois, o banco fez um desafio de vendas de 10 produtos até o dia 10 de junho. Em seguida, o banco criou uma ferramenta de “motor de vendas”, na qual o gerente geral tem acesso a quantos produtos o gerente vendeu por dia. Resultado: o desafio agora é de 10 produtos em um dia.
“O Santander mesmo com a pandemia não abriu mão de nenhum meta. Nenhuma! Estamos sendo cobrados fortemente por todos os produtos, principalmente o SCC (seguro, consórcio e capitalização). Não só as metas foram mantidas, como agora tem várias formas de nos medir, coagir e até ameaçar. Os GGs falam que após a pandemia será utilizado o seguinte critério: quem não atingiu as metas estará entre os primeiros a serem mandados embora. Isso é falado claramente por todos os GGs em todas as agências. Eu sinto que não vou aguentar”, relata um bancário, que terá sua identidade preservada para evitar represálias.
Home office para quem?
O home office foi uma conquista da categoria bancária em negociação entre o Comando Nacional e a Fenaban no início da pandemia. Por outro lado, até o que era para ser uma garantia de proteção aos trabalhadores se transformou em um instrumento de transtorno.
O banco não vem oferecendo estrutura para os bancários em home officecompatível com as funções que eles devem exercer. Com isso, muitos estão cumprindo suas atividades de maneira precária, comprometendo sua produtividade. Esta situação, somada à cobrança exaustiva por parte dos gestores, vem causando desgastes e instabilidade para os trabalhadores.
“Não foi fornecido notebook para todos, nem telefone; só uma parte do que estão em home office recebeu. Funcionários tem que usar o próprio computador, a própria internet e o próprio celular. E estão sendo cobrados da mesma maneira, com a mesma pressão! Esses funcionários recebem suporte para instalar o sistema do banco em seu computador, mas em nenhum momento recebem ajuda de custo para arcar com internet. E quem não tem computador ou notebook que se vire”, relatou outro bancário.
“A gente precisa de paz para produzir, precisa de motivação, precisa de infraestrutura. Muitos não conseguiram home office por não terem equipamentos com configuração compatível com os programas do Santander. A responsabilidade de fornecer equipamentos e todos os insumos necessários para o trabalho é do banco”, completou Lucimara.
O Sindicato reivindica que não haja cobrança de metas durante a pandemia. “O compromisso de cobrar com razoabilidade já não atendia nossa reivindicação, mas nem isso o Santander tem feito. Razoabilidade, bom senso e respeito estão bem longe das práticas de gestão que observamos no Santander”, diz Lucimara.