”Nesse dia as mulheres russas ergueram a tocha da revolução proletária e incendiaram todo o mundo”
O 8 de março é uma data de origem operária. É um marco das lutas por direitos, com greves, protestos e manifestações em busca de melhores condições de trabalho e igualdade. Para além da celebração, essa data simboliza a força e a resistência das mulheres ao longo de nossa história.
O Dia Internacional da Mulher tem origem em uma manifestação organizada por tecelãs e costureiras de Petrogrado, durante a greve iniciada no dia 23 de fevereiro de 1917, na Rússia, por pão e paz. Esse movimento, que reuniu mais de 90 mil trabalhadoras e trabalhadores, foi o estopim da primeira fase da Revolução Russa.
“Em 1917, no dia 8 de março (23 de fevereiro), no Dia das Mulheres Trabalhadoras, elas saíram corajosamente às ruas de Petrogrado. As mulheres – algumas eram trabalhadoras, algumas eram esposas de soldados – reivindicavam “Pão para nossos filhos” e “Retorno de nossos maridos das trincheiras”, contou Alexandra Kollontai, em 1920, líder revolucionária russa e teórica do feminismo marxista, membro do partido bolchevique e militante ativa durante a Revolução Russa de 1917
Nesse momento decisivo, o protesto das mulheres trabalhadoras era tão ameaçador que nem mesmo as forças de segurança czaristas ousaram tomar as medidas usuais contra as rebeldes e observaram atônitas o mar turbulento da ira do povo.
”Nesse dia as mulheres russas ergueram a tocha da revolução proletária e incendiaram todo o mundo. A revolução de fevereiro se iniciou a partir desse dia.”
Mulheres Trabalhadoras levam mais de 90 mil para as ruas de Petrogrado, Rússia
Foi para relembrar a ação das mulheres na história da Revolução Russa que o Dia Internacional das Mulheres passou a ser comemorado de forma unificada no dia 8 de março. A decisão de unificação foi tomada na Conferência de Mulheres Comunistas, coincidindo com o Congresso da Internacional Comunista, realizado em Moscou em 1921”.
No dia 8 de março deste mesmo ano, Lênin escreveria no Pravda um artigo que dizia:
“a metade feminina da raça humana é duplamente oprimida pelo capitalismo. A operária e a camponesa são oprimidas pelo capital, mas primeiro, e acima de tudo, inclusive na mais democrática república burguesa, permanecem, primeiramente, privadas de alguns direitos porque as leis não lhes concedem igualdade com os homens; e, em segundo lugar – e este é o aspecto mais importante – permanecem ‘escravas do trabalho doméstico’. Continuam sendo ‘escravas domésticas’ porque estão sobrecarregadas com a monotonia do mais mesquinho, duro e degradante trabalho na cozinha e nas tarefas domésticas familiares”. Continua ele: “aqui, na Rússia Soviética, não sobrou nenhum rastro de desigualdade entre os homens e mulheres perante a lei”.
Lênin, como um bom marxista, sabia que a igualdade formal perante a lei ainda era insuficiente, pois na prática cotidiana a opressão poderia ser mantida. Por isso, concluiu: “Este é só um passo na libertação da mulher. Mas nenhuma das repúblicas burguesas, incluindo as mais democráticas, se atreveu a dar sequer o primeiro passo”.
Após o fim da Primeira Guerra Mundial, em 1918, começa a ser retomado o dia da Mulher. Mas é só a partir de 1921 que o movimento de mulheres passa a celebrar o Dia Internacional da Mulher. Anteriormente havia a celebração, mas não em uma data unificada.
A II Conferência Internacional de Mulheres Socialistas, realizada em Copenhague, em 1910, decidiu pela realização de um dia internacional dedicado à luta das mulheres.
O direito ao voto era a principal luta das mulheres em grande parte dos países no mundo naquele momento. A decisão diz o seguinte: “As mulheres socialistas de todas as nações organizarão um Dia das Mulheres específico, cujo primeiro objetivo será promover o direito de voto das mulheres.”
Antes, a data já era celebrada em alguns lugares. Em 3 de maio de 1908, a Federação dos Clubes de Mulheres Socialistas de Chicago realizou um ato pelo Dia da Mulher, num teatro da cidade. No ano seguinte aconteceu em Nova Iorque, em 28 de fevereiro.
Em 1910, o Partido Socialista americano organiza, pela segunda vez, o Dia da Mulher, no último domingo de fevereiro, também em Nova Iorque. Foi assim em 1911, 1912 e 1913. Em 1914, foi comemorado em 19 de março.
Manifestação sufragista do início do século XX
Na Europa, a primeira celebração do Dia das Mulheres aconteceu em 19 de março de 1911, na Suécia, após a Conferência de Copenhagem. Na Itália começou no mesmo ano. Na França, o começo foi em 1914. Nesse ano pela primeira vez, na Alemanha, o ato é realizado em 8 de março.
Em 1921, Alexandra Kollontai propõe durante a conferência das Mulheres Comunistas, realizada, em Moscou, na URSS, que se adote o dia 8 de março como data unificada do Dia Internacional das Mulheres, em homenagem à greve das tecelãs em 1917.
A partir dessa conferência, a data passa a ser espalhada como data das comemorações da luta das mulheres, em todo o mundo. Assim nasceu o 8 de Março.
Na década de 1960, as manifestações pelo Dia Internacional da Mulher ganham grandes proporções. Em 1975, a ONU, e logo depois com a Unesco, em 1977, reconhecem o 8 de Março como Dia Internacional da Mulher.

Atrizes brasileiras em manifestação contra a ditadura no Brasil, 1968, no Rio de Janeiro
Linha do Tempo
Início do Século XX: As pioneiras
8 de março de 1908 – Um grupo de mulheres trabalhadoras têxteis em Nova York entra em greve para reivindicar melhores condições de trabalho, redução da jornada e salários justos
1910 – Durante a II Conferência Internacional de Mulheres Socialistas em Copenhague, a alemã Clara Zetkin propõe a criação de um dia internacional para reivindicar os direitos das mulheres. A data ainda não foi fixada
Reconhecimento
8 de março de 1917 – Trabalhadoras russas organizam uma greve por “Pão e Paz”, um protesto que impulsiona a Revolução Russa e leva à abdicação do czar Nicolau II. Esse evento reforça a importância da data
1921 – Durante uma conferência na União Soviética, o 8 de março é reconhecido como o Dia Internacional da Mulher, em homenagem à greve russa
Consolidação Mundial
Anos 1960-1970 – O movimento feminista ganha força no Ocidente, e o Dia Internacional da Mulher passa a ser uma data de luta pelos direitos civis e trabalhistas
1975 – A ONU (Organização das Nações Unidas) reconhece oficialmente o 8 de março como o Dia Internacional da Mulher, durante o Ano Internacional da Mulher
1977 – A ONU incentiva os países a adotarem a data para promover a igualdade de gênero
fontes: Brasil de Fato, USP, Fundação Maurício Grabois
charge Latuff