Webmail
quinta-feira, 25 de abril de 2024

EM CIMA DA HORA

publicado em 03/01/2017

Propaganda do MEC mascara reforma do ensino

Governo Temer utiliza pesquisa equivocada para divulgar suposto apoio de secundaristas e população; para educador, levantamento do Ibope esconde discussão complexa.

São Paulo – Em nova propaganda veiculada em rádio e televisão, o governo Temer apresenta a reforma do ensino médio como uma proposta aprovada por secundaristas, quando conhecem seu teor, e por 72% da população. Os dados da peça publicitária são de pesquisa encomendada ao Ibope, que entrevistou 1.200 brasileiros entre os dias 30 de outubro e 6 de novembro.

Entretanto, para o professor Cesar Callegari, diretor da Faculdade Sesi de Educação, e membro do Conselho Nacional de Educação, a pergunta esconde uma discussão complexa, o que preocupa especialistas que discutem políticas públicas para o setor.

A questão aos entrevistados foi: “O senhor é a favor ou contra a reformulação do ensino médio que, em linhas gerais, propõe ampliação do número de escolas de ensino médio em tempo integral, permite que o aluno escolha entre o ensino regular e o profissionalizante, define as matérias que são obrigatórias, entre outras ações?”.

Para Callegari, mudanças contidas na reforma, como a flexibilização do currículo, já são permitidas pela atual legislação. “A flexibilização, de maneira geral, é positiva, mas não precisaria de uma Medida Provisória. Já existem leis que permitem que os sistemas de ensino possam organizar currículos de maneira inovadora e flexível. O que é gravíssimo é reduzir [o programa curricular que será aplicado aos alunos] às quatro paredes de um microfundio de 1.200 horas. Na prática, os direitos de aprendizagem do aluno brasileiro médio estão reduzidos àquilo que couber nas 1.200 horas, portanto metade do tempo do Ensino Médio (2.400)”, defende.

Já sobre o ensino profissionalizante, o educador diz ser fantasiosa a ideia de que toda escola de ensino médio será também profissionalizante. “Eu defendo uma aproximação da escola com o mundo do trabalho, não digo do mercado. Mas é fantasioso imaginar que todas as escolas de ensino médio no Brasil serão também escolas de formação profissional. O que essas escolas podem fazer é uma articulação curricular com instituições públicas, ou não públicas, que atuam na atividade de educação profissional. Quem entende a questão da educação profissional sabe que uma improvisação, feita de qualquer maneira dentro de uma escola pública do ensino médio, não dará certo, lembrando que boa parte delas nem se sustentam hoje sobre suas próprias pernas, diante da enorme carência de recursos, sejam humanos, técnicos ou financeiros”, argumenta.

Tempo integral – Sobre o ensino em tempo integral, Callegari coloca a qualidade como fator fundamental para o seu sucesso. “A grande questão que sempre está posta é que a educação em tempo integral seja feita com uma educação de boa qualidade, que tenha significado para os estudantes, que as escolas não sejam transformadas em uma espécie de colégio interno. Toda a educação de má qualidade favorece a evasão e, portanto, se a educação em tempo integral for de boa qualidade, vai favorecer a fixação do aluno.”

Currículo – Outra crítica feita por Callegari refere-se ao fato de o currículo do ensino médio ser definido através de Medida Provisória: “Quem deve definir currículo é o Conselho Nacional de Educação, e conselhos nacionais, articulados com os sistemas educacionais, com secretários de educação”.

Matérias optativas – Quando lançou a MP da reforma do ensino médio, o governo estabeleceu que as matérias artes, educação física, sociologia e filosofia se tornariam optativas. Pouco depois, voltou atrás, afirmando que o conselho que discute a Base Nacional Curricular Comum (BNCC) é que irá decidir. Callegari é autor da Lei nº 11.684/2008, que tornou filosofia e sociologia disciplinas obrigatórias no ensino médio.

“Filosofia e sociologia admitem inúmeras abordagens, mas são, antes de mais nada, um avanço no sentido de uma educação mais humanista e democrática. Essas matérias sempre foram vistas como um risco para a ideologia mais à direita no Brasil, portanto elas têm sido – e já foram no passado – vítimas preferenciais desses movimentos. Além disso, o problema da educação no Brasil não está no número de disciplinas, mas na falta de articulação entre elas, por exemplo, matemática não dialoga com física ou química, e assim por diante", conclui o educador.

  Fonte: Seeb/SP
  • Whatsapp
  • Telegram
FETEC-SP é uma marca registrada. Todos os Direitos Reservados.
INFOSind - A MAIOR Empresa de Gestão Sindical do Brasil